sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Anísio (interinamente) Capítulo Sexto



  Ao bem vestido senhor que andava apressado, Anísio solicitou informações acerca do mencionado local de trabalho. Paciente, ainda que não parecesse, o bondoso homem apontou:

  _ Elefante? Ah, sim, fica ali depois do Tribunal, passa por trás que é mais fácil.

  _ Aquele ali, grandão? Duvidou Anísio.

  _ Isto, isto. Terminou a conversa o passante, caminhando em direção ao Fórum.

  Com esta certeza, partiu em direção ao prédio que jazia esquelético, confiando que encontraria a solução para o seu problema financeiro. Não esquecia, entretanto, que teria que achar algum lugar barato para dormir e que servisse a janta, pois não sabia se teria grana para os dois.
  Mal chegou e pode perceber que seu “grande amigo” não lhe contara toda a verdade: a tal obra que estava contratando um mar de gente, era na verdade um elefantão mesmo, totalmente inacabado e sem sequer um resquício de alma viva que podia algum dia ter trabalhado ali.
  Desiludido, ainda teve tempo de xingar alguns moradores de rua que ali procuravam se esconder do calorento inverno de dezembro. Razão pela qual, teve que correr alguns bons metros, para escapar da ira de uns seis que procuravam, com mais interesse, uma maneira para passar o tempo.
  Quando constatou estar fora da área de risco, passou a caminhar com a cabeça baixa, pensando na vida como não conseguira fazer desde que colocara os pés nesta maravilhosa cidade.

  _ O que eu fiz, meu Deus, para merecer tão grande infortúnio? Pensava, quase em voz alta. Sei que perfeito nunca fui, mas não lembro de ter causado tanto mal, para que tal sorte me caísse.

  Suas palavras, assemelhavam-se àquelas ouvidas, nos longínquos tempos em que sua amada avó ainda permanecia junto dele, na igrejinha evangélica instalada próxima ao sítio. Não consegui encontrar explicação para o que sentia, mesmo que passasse a vida inteira caminhando por aquelas ruas, sabia que talvez nunca encontraria.
  Cansado de tanto pedir informações, decidiu deixar a sorte o levar aonde quisesse, mesmo porque pior que estava não poderia ficar.
  Me desculpem, mas por que, meu Deus, por que, alguém não lhe ensina os caminhos da vida? Será que ninguém lhe diria que nada é tão ruim, que não posso piorar? Ou será estas ponderações um sentimento depressivo, deste que vos fala?
  Não sei, só sei que os acontecimentos que viriam a seguir podem confirmar ou desmentir minhas convicções.

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