sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Anísio (interinamente) Capítulo Oitavo

  Meio estonteado, não entendeu o que Renata havia lhe dito, até que abriu os olhos e percebeu que sua amada amiga, estava um pouco mais velha e não tão bonita como lembrava.
  Mal teve tempo para se jogar da cama e perceber que estava seminu, enquanto a dona da pensão, agarrada as suas pernas lhe implorava amor.

_ Amor? questionou Anísio. O que sabes sobre isso? Nem me conhece direito pra dizer que me ama. Que loucura é essa?

_ Pare com isso rapaz! Devolvia a bondosa senhora. Te dou de comer e beber, mas pra mim não tem nada?

_ Nem vem Dona, ponderou, eu paguei pelo que tínhamos combinado. Não falamos nada nesse negócio de amor e nem sei o quê.

_ Ora, ora, mas é ingênuo este rapaz. Vem aqui pra mamãe que eu vou te falar desse negócio de amor...

_ Aí ó, nem vem, sai, sai... Considerou Anísio, enquanto corria pelo quarto, tentando reaver as suas roupas.

  Percebendo a vergonha alheia, a dona da pensão, se divertia:

_ Tó docinho, quer colocar a ropinha, quer?

  Desesperado, sem saber o que fazer, Anísio, pegou sua mala, que estava próxima a porta e tentou sair dali, quando percebeu estar trancada.

_ Aí, meu Deus, pensou, que eu vou fazer agora?

  Mas, sentiu uma tremenda emoção surgir dentro dele, e argumentou calmamente com a senhora:

_ Se a senhora, que é uma senhora de respeito, dona deste estabelecimento, não fizer o obséquio de abrir a porcaria desta porta, eu garanto que não vou precisar da sua ajuda quando minha paciência acabar! (Estas últimas palavras um tanto quanto acima do tom).

  Ainda que conscientes (ou não!), seus gritos acabaram por acordar os demais conviventes daquela pensão, que batiam à porta pra saber o que estava acontecendo. Diz o ditado que gato escaldado tem medo de água fria. Sabendo ou não disso, provavelmente prevendo o que poderia lhe acontecer, tão logo conseguiu colocar uma roupa, saltou pela janela buscando fugir de sua prisioneira.
  Não sei se lembram, mas quando acabou de jantar, Anísio se despediu da senhora, que a partir de então se mostraria uma bela de uma sem-vergonha, e subiu para seu quarto. Pois é, foi de subir ao quarto que não lembrou quando pulou por aquela janela.
  Por incrível que pareça, ele lembrou de ter subido ao seu quarto apenas enquanto percebia que estava demorando muito pra chegar ao chão. Teve tempo pra ver ao longe uma torre muito alta, com um formato totalmente diferente dos prédios que já havia conhecido nesta cidade. Teve tempo de ver um gato pular de um telhado ao outro no prédio vizinho, se batendo com outro. Além de ter tempo de ver uma moça tirando a toalha no quarto após sair do banheiro.
  Enquanto voava, ainda ouviu às suas costas o barulho da porta sendo arrombada e grito assustado daquela bondosa senhora que afirmava:

_ Ele se jogou, disse que queria se matar. Que loucura, meu Deus!

  Lembra que teve tempo também de ouvir várias pessoas lhe cercarem enquanto jazia esparramado ao chão, dizendo:

_ Rápido, ele ainda tem pulso! Gritava uma voz desconhecida.

  Teve tempo para ouvir o choro de desespero de algumas mulheres que haviam saído de suas casas, aquela hora, apenas para lamentar a desgraça alheia.
  O tempo foi suficiente para ele ver tudo, apenas se reteve quando devia se dar para que Anísio conseguisse trancar a respiração antes de mergulhar naquele imenso e escuro vazio.

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