quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Anísio (interinamente) Capítulo Décimo


  Como se acordasse de um sonho (?), caminhou em um túnel, estranhamente escuro, mas que ao seu final, por mais poético que fosse, havia uma pequena luz que brilhava incansavelmente.
  Olhando para trás, não via nada além de um imenso vazio, como se pudesse observar algum vazio em tamanha escuridão. Ainda assim, não sabia se voltava ou continuava a andar. Mesmo que aquela luz parecesse acolhedora, em sua mente, algo lhe fazia lembrar de alguns filmes de sua adolescência, em que ouvia as pessoas gritarem:

  _ Não vá para luz!

  No entanto, ainda que tentasse, seu corpo não obedecia seus comandos, com ele continuando a andar em direção à mal-afamada luz. Se não bastasse, o seu peito ardia incessantemente, bem como, seu membros latejavam como se ferido estivesse. Algumas vezes, além de tudo isso, sentia uma dormência em seu corpo, fazendo que quase desfalecesse.
  De repente, não mais que de repente, ele viu-se em uma sala, onde pessoas vestidas como médicos, andando como médicos, falando como médicos, realizam o que parecia ser um cirurgia.
  Anísio estava cansado de tantas idas e vindas de lugares onde não sabia como conseguira ir, nem como conseguira voltar. Não entendia como tinha se tornado uma criança ou, se era mesmo uma criança, como havia envelhecido tão rápido.
  Sentindo a tremenda dor do peito, não entendia o motivo que fizera seu avô lhe jogar uma chaleira de água fervente. Sem contar que ainda ficara rindo. Seria seu avô algum sádico enrustido, tenho certeza que pensou, que aproveitou da sua repentina invalidez para fazer-lhe seu brinquedo?
  No entanto, como se a razão o encontrasse naquele instante, pensou que jamais aquilo poderia ter acontecido, ou que não passava de um sonho, uma vez que seu avô jazia morto. Também, lembrou, sua querida avó.
  O problema foi que, com este pensamento, lembrou da casa pegando fogo, do ferro em cima da tábua de passar roupa, enquanto sua avó debruçada sobre a mesa, aos poucos desaparecia sob as nuvens de fumaça que davam o ar de sua graça àquela funesta cena. Lembrando disto, como se assumisse a culpa pelo acontecimento, chorou.
  Ao limpar suas lágrimas, conseguiu vislumbrar um pouco mais da sala de cirurgia. Os vários médicos que ali se encontravam pareciam não perceber a presença de Anísio. Na mesa, um rapaz se encontrava muito ensangüentado, enquanto os médicos insistentemente, davam-lhe choques, tentando reanimá-lo. Aos poucos, Anísio conseguiu se desvencilhar dos que ali estavam, verificando, com o pouco que entendia de medicina, que a frequência cardíaca do desgraçado que ali estava, não se alterava de uma linha que insistia em permanecer estável, entretanto, zerada.
  Por achar que aquele corpo lhe era familiar, pensando se tratar de algum parente ou conhecido, se aproximou cada vez mais até se ver como se num espelho sujo de sangue.
  Então, tudo fez sentido. Seus braços, pernas e dedos, pelo que podia ver, estavam absolutamente quebrados, em seu peito, a marca vermelha do desfibrilador, que como se ali deitado estivesse, ardia muito naquele instante.
  Não se sabe se foi a visão daquela cena, mas como se apagassem a luz e a acendessem num piscar de olhos, ele se viu deitado em uma mesa, com as pessoa que vira a pouco, lhe desferindo olhares satisfeitos.
  Tão logo abriu os olhos, ele apagou.


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