quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Anísio (interinamente) Capítulo Sétimo

 
Por sorte (olha só!), Anísio, com o pouco dinheiro que não lhe haviam furtado, conseguiu pagar uma diária em um quarto de pensão, aonde serviam jantar e café da manhã.
  Cumprimentou a dona do estabelecimento e, enquanto subia em direção ao seu quarto. Não sem antes perceber o olhar maliciosa que a bondosa senhora lhe lançara.
  Pela porta entreaberta pode perceber o que seria sua noite: um colchão fino, com uma coberta maltratada sobre ele. Ao lado, uma televisão em preto e branco, que por algum motivo estava ligada em um canal nada convencional.
  Olhou para o relógio e percebeu que eram onze horas, exatamente. Pensava que enfim conseguiria descansar naquela bendita cidade.
  Antes de deitar, desligou a televisão e orou ao Deus de sua avó, pedindo que este lhe garantisse uma boa noite de sono, bem como, que o dia seguinte fosse diferente de todos os últimos que passara. Ao deitar, portanto, tinha grande esperança de que sua sorte mudaria.
  Deitou, mas até que dormisse, ficou assistindo aos insetos que corriam pelo teto, esperando que eles lhe dessem alguma explicação para tudo pelo que passava ou, ao menos, o ajudassem a suportar tamanho azar (ainda que não imaginasse como eles poderiam fazer isto).
  Enquanto o sono não vinha - por mais cansado que tivesse -, lembrou de sua avó e de sua antiga vida, dos seus amigos e de tudo o que perdera. Sabia que o dinheiro não tinha qualquer valor sem tudo o que antes tinha, mas não era tolo de acreditar que a falta dele não seria tão valorizada, quanto antes.
  Nestes devaneios, o extremo cansaço que sentia, lhe furtou as forças que o mantiam acordado, fazendo-o adormecer.
  Enquanto dormia, sonhou com seu antigo eu, desfrutando do que aquele passado tinha lhe proporcionado. Em seu sonho, estava sentado no quintal de sua casa e conversava com sua avó:

_ Vó, por que, nos livros que a senhora me deixa ler, é sempre a mulher que se apaixona e sofre por um homem? Perguntava um menino, que era ele há muito tempo atrás.

_ Olha, meu filho, é porque o homem é desprendido destas coisas do amor, ele geralmente quer coisas que agora você ainda não pode entender... Respondia, aquela paciente anciã.

  Tendo ela respondido aquilo, resolveu balançar-se no abacateiro que ficava atras de sua casa, pensando naquelas palavras, pensando que um dia seria homem para pensar em coisas que agora não podia entender, por mais pleonástico que isso pudesse parecer.
  O sol batia em seu rosto fazendo com que se sentisse extremamente vivo, ainda mais com a brisa quente daquela manhã, que lhe acariciava, fazendo sua virilidade extasiar.
  Assim, tão logo quanto criança havia tornado, se via um rapaz, com sua idade atual e percebia que não entendia nada do que a avó lhe falara. Sabia que mudara com o tempo, mas continua com os anseios e desejos infantis.
  Neste momento, estava sentado sobre o portão enquanto sua amiga Renata aparecia no fim da rua, descendo o carreador, aproximando-se enquanto acenava, bela com seu vestido que sempre parecia florido, mas ela afirmava não ser.
  Do nada, ela já estava ao seu lado, conversando sobre coisas além de sua imaginação, prometia viver pra sempre um futuro que, não sabia porque, não acreditava poder existir. Estavam o dois deitados na grama e ela lhe sorriu, colocou sua mão fria sobre seu peito e lhe disse baixinho:

_ Acorda, “morenão” gostoso, que eu quero você!

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