sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Anísio (interinamente) Capítulo Quinto


  Entre gritos afirmava:

  _ Sou Tricolor e daí?

  _ Cê é paulista, é, ô caipira? Protestava o sábio senhor. Onde já se viu, ainda não aceitaram que o Paraná não é província de São Paulo, lá no mato?

  _ É isso aí, se for pra ficar falando besteira, pode sair do nosso bar! Bradou um, que acreditava deter a propriedade daquele estabelecimento.

  Sob os protestos mais calorosos, de alguns senhores de respeito que cambaleavam ao fundo, resolveu que, por pior companhia que fossem, aqueles eram os únicos que poderia ter, pelo menos por enquanto.
  Pensando nisso, enfim, resolveu tratar de sua situação:

  _ Aí amigo, vou querer um prato feito! Gritou para o dono do boteco, que, insatisfeito por ter que deixar de assistir o programa sagrado, virou-se pra cozinha disparando o pedido contra a sofrida cozinheira.

  No entanto, se fosse a fome seu único problema, não seria tão difícil de se resolver. Entretanto, sua vida havia se tornado uma areia movediça: quanto mais tentava se mexer, mais se afundava.
  Em meio a estas ponderações, o prato recheado por arroz, feijão, bife e salada de tomate, ia desaparecendo em sua frente e o silêncio, quebrado apenas pelo som da televisão ligada, era dominante sobre o reino masculino daquele bar. Procurava observar as pessoas, seus costumes e hábitos, achando interessante o modo como se alimentavam. Parecia um filme, aquele bando de esfomeados, que tratavam aqueles pratos de comida, por pior que fossem, como sendo a dádiva mais saborosa, ou a última coisa que levariam a boca.
  Mal sabia Anísio, que no mundo que estava começando a viver, deveria aproveitar qualquer prazer como se o último fosse, uma vez que, em meio a tantas desilusões a amarguras, dificilmente se lembraria da última vez que tinha passado por tal situação.
  O almoço terminou tal logo havia começado, dando retorno aos som de vozes ao ambiente.
  Satisfeito, após ter resolvido um de seus problemas, passado o efeito do futebol, resolveu que devia, por mais dúbio que parecesse, resolver seus demais problemas:

  _ Ô gente boa, sabe de algum lugar que teja pegando gente pra trabalhar? Passou a palavra ao rapaz estava mais próximo de sua mesa.

  _ Olha, tem uma obra ali no centro cívico que dizem tar precisando.

  _ E onde fica esse lugar? Como que eu faço pra chegar lá? Interessou-se Anísio.

  _ Faz assim ó, sobe nessa rua aqui, até a praça ozório, depois de duas quadras cê sobe direto até a Catedral, passa por trás dela, e segue reto. Quando chegar no fim da Avenida, que termina no prédio do Governo, você pergunta aonde fica o Elefante Branco, que qualquer um vai saber.

  _ Daí, chegando lá, você fala pro Jorge, que o Gerson te mandou, entendeu? Encerrou o rapaz, que agora sabia Anísio, ser Gerson.

  Tão logo pagou o almoço, Anísio despediu-se dos seus novos colegas e partiu apressado na direção informada por seu grande amigo.

  _ Valeu aí, pessoal! Gritou, saindo do estabelecimento.

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