segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Anísio (interinamente) Capítulo Nono

  Parecia um sonho, uma fantasia distante, mas Anísio era apenas uma criança. Via-se com sete anos, porém, não sabia porquê, achava ter a maturidade de alguém dez anos mais velho que ele.

  Enquanto brincava com sua prima, sentia medo que o considerassem um pedófilo quando ela tentava dar um beijo em sua boca. Ouvia seus avós gritarem, dizendo que aquilo era muito feio.
  Não entendia por que eles brigavam, afinal, o que eles pensavam? Que ele era alguma criança? Ou que, pior, ele era algum pervertido?
  Percebeu quando a moça que ajudava sua avó nos afazeres domésticos chegou, ele a cumprimentou, pensando em como tinha passado a vida sem perceber o quanto ela era atraente. Sentiu o coração acelerar enquanto ela se aproximou, mas, para sua surpresa, ela o levantou, colocando em seu colo. Não bastasse, ainda disparou o “fora” mais sem graça que ele jamais imaginara levar:

_ Como você tá, fofuchinho da titia? Afirmava a sua amada. Tá bonito, fortão, hum, que vontade de apertar.

  Já Anísio, em sua desilusão amorosa, segurando a sua vontade de esmurrar a cara daquela garota prepotente, se desvencilhou dos braços pegajosos e correu atrás de uma árvore para chorar. Não conseguia entender porquê todos o tratavam como criança. Nunca imaginava ser levantado ao colo, com a idade que tinha.

_ Como ela pode fazer isso comigo. Pensou. Quem ela pensa que é para me levantar em seu colo? Era só falar que não queria nada comigo e pronto. Será que demonstrei alguma atitude infantil e não percebi?

  Assim, com estas dúvidas, passou a questionar a realidade do que vivia. Passou, aos poucos, a lembrar que não era uma criança e, se estava assim, alguma coisa estava errada. No entanto, tão logo sua amiga Renata gritava no portão, ele esquecia de tudo aquilo, que achava se tratar uma tremenda bobeira, e logo ia brincar com ela.
  Contudo, os dias foram se passando e até a sua querida Renata não estava tão legal como sempre, ela vinha com conversas muito infantis para ele, respondendo de forma absurda, às perguntas que fazia.
  Para piorar, sentia em seu braço uma dor irritante, além de estar com uma dificuldade grande para andar. Passou alguns dias sem sair de casa e, num dia em que o sol estava insuportavelmente brilhante, ele decidiu acabar de vez com suas dúvidas:

_ Vô, perguntou baixinho, por que as vezes eu penso que não sou uma criança?

_ Por que você não é, idiota. Respondeu seu avô, com a voz em uma tonalidade estranhamente calma para o que a frase proferida significava.

  Sem entender, Anísio mexeu-se para levantar de sua cama, quando seu avô correu até ele, atacando a chaleira de água quente que carregava, em seu peito. Ele gritou de dor, olhando assustado para seu avô que desaparecia enquanto sua visão enegrecia. Entretanto, ao invés de dormir, ele acordou.

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