sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Anísio (interinamente) Capítulo Décimo Segundo

  No seu segundo dia após a volta do mundo dos quase mortos, Anísio, estava perturbado. Lembrava das palavras ditas pela sua enfermeira querida, mas não conseguia achar explicação para o que estava acontecendo.

  O seu café matinal, regado à uma torrada e chá sem açúcar, foi recheado pelas palavras torpes do seu vizinho de cama:

_ Olha meu filho, antigamente, nada era com hoje, o muito está acabando e ninguém percebe isso.

_ Como assim meu senhor, em que sentido? Questionava insatisfeito Anísio.

_ Ah, veja essa nossa enfermeira: Não passa de uma mulher vulgar. Acha que eu não vi que ela ficou dando mole pra você? Onde já se viu, ela pegar na sua mão, ficar sentada na sua cama? No meu tempo, só depois de muito de namoro se podia pegar na mão e olhe lá. Vocês são namorados? Terminava o senhor, com um misto de curiosidade e inveja.

  Respirando fundo, Anísio olhou pela janela na esperança de ver algum resquício de sol ou alguma coisa que o livrasse daquela chateação. Ainda assim, como se quisesse responder algo mais, suspirou:

_ É... Não.

  Neste instante, a sua adorável companhia entrou em seu quarto, fazendo-o vibrar com sua beleza e perfume. Por mais que ele implorasse mentalmente que ela fosse até ele, sua querida enfermeira cumprimentou seu vizinho de cama, olhando nos olhos do velho enfermo que, para surpresa (ou não) de Anísio, se deleitava em tamanha satisfação. Desta forma, deu-se um breve diálogo entre os dois:

_ Bom dia Sr. Carlos, o senhor está se sentindo bem? Ponderou a enfermeira.

_ Ah, como é bom ver moças bonitas e respeitosas como você, Dra. Elaine, faz-me sentir melhor a cada dia...

_ Hum, então eu fico feliz por estar aqui, a previsão é que em uma semana o senhor tenha alta, pode falar com sua esposa.

_ Esposa? Ah, aquela velha xarope que fica no meu pé o dia inteiro? Não sei nem se eu quero voltar pra casa. Estou bem aqui com você.

  Esta ponderação, acompanhada de uma cara mais galanteadora possível, foi recebida com um sorriso, que culminou com a resposta:

_ Não fale assim, ela é uma boa pessoa, muito bonita também, o senhor devia agradecer por ter alguém assim do seu lado. Além do que – brincou a enfermeira -, eu fico com vergonha com o senhor falando isso e não venho mais aqui.

_ Tudo bem, tudo bem, menina. Desculpe as loucuras deste velho tapado, hoje mesmo em comentava com o colega aí como você é uma moça de direito. Respondeu apontando para Anísio.

  Diante desta frase, a enfermeira querida, que de desconhecida tinha se mostrado uma boa pessoa, de boa pessoa uma pessoa muito querida e que, agora, sabia se chamar Elaine, virou em direção a ele, lançando-lhe o sorriso mais bonito que vira a muito tempo. Seu coração vibrou como se placas de zinco fosse e algum menino traquinas viera por lhe chutar.
  Reagiu com um bom dia engasgado, que ela sequer ouviu, mas, ainda assim, veio em sua direção, deixando-o embriagado com seu perfume, a ponto de lhe proporcionar uma extrema sensação de bem-estar.
  Parece que percebendo o que fazia com o indefeso rapaz, ela sentou-se em sua cama, olhou no fundo de seus olhos e sorriu. No entendimento de Anísio, aquele instante durou uma eternidade, até porque, parecia que ela conseguira arrancar do seu peito toda mágoa que ele carregava.
  Após este instante, ela se aproximou, fazendo-lhe enlouquecer com tal proximidade, e disse:

_ Olá, meu rapaz, dormiu bem esta noite?

  Alguns segundos se passaram até que Anísio conseguisse se desvencilhar da magia de Elaine e tentasse raciocinar, e balbuciar, uma resposta:

_ É... Sim.

_ E agora, está tudo bem? Porque percebo uma inquietação em você. Ponderou a bela enfermeira.

_ Mas é claro que estou inquieto, você me enlouquece, eu só consegui dormi porque você me encheu de remédio, não sei mais o que faço para suportar! Respondeu em pensamento, Anísio.

  Ao contrário deste pensamento inconveniente, mas sincero, respondeu que estava muito bem e novamente perguntou por sua mala. Antes que ela começasse a explicar tudo de novo, ele contou sua história e tudo que vivera até ali.
  Ao final de seu discurso, ela suspirou profundamente e, com os olhos marejados, lhe argumentou alguma e se despediu, saindo estranhamente depressa do quarto.

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