sexta-feira, 20 de março de 2009

Tempos da Crise VI

Von Sätre era um cidadão famoso na cidade de Chantily. Formado em Direito, era um advogado famoso por sua rebeldia até mesmo em Paris.
Sua família dominava há gerações está pequena cidade. Desde seus tataravós, até seu pai, todos haviam ocupados cargos públicos de alto escalão na política de Chantily ou gerenciavam os grandes silos que abasteciam quase todo o norte francês.
Morar em Chantily, tinha sido determinação médica, afinal sua vida de boêmia nas ruas da poluída Paris e sua luxúria pelos bordéis por anos, havia causado-lhe um tremendo furo no bolso e uma enfisema nos pulmões. Portanto, o ar calmo da pequena cidade e de seus habitantes poderia, ao menos, um tolerável fim.
O Visconde de Sous-vêtement como era chamado, usou seu enorme poder de persuasão, ludibriando as parisienses, principalmente as casadas, causando ódio e inimizades entre a alta sociedade da capital.
Há boatos que por sua causa, de Gaulle pediu que a justiça cassasse sua autorização para atuar em juízo, pois von Sätre seduzira sua filha ocasionando o fim do casamento.
Foi assim, em meio a tantos boatos, que sua fama correu a toda França. E foi essa fama, que precedeu sua chegada a Chantily.
Os pacatos habitantes da cidadezinha que por ora hospedava-me, como não tinham o que mais comentar, passaram a semana dicutinda sobre a vinda de von Sätre. Contudo, engana-se quem pensa que sua fama equivalia a respeito. A maioria da cidade odiavam ele e sua família. Os que não odiavam, faziam parte da família.
Ora, não era pra menos, o poder repressivo exercido sobre a cidade, mesmo em pleno Século XX, era muito parecido com o governo dos Generais no Brasil. E, ouvindo isso, lembrei-me do porquê estava em plena França, no verão de 1974.
Os seguintes sentimentos passaram por mim neste momento. Minha paixão súbita pela mulher do cara que ninguém ousara desafiar por anos, a saudade do meu amado país e a vontade de voltar à luta.
Quanto a paixão, eu sabia que, se conseguisse conquistar minha flor de lis, teria o apoio do povo. Contudo, corria o risco de cutucar onça com vara curta e o tiro sair pela culatra, uma vez que poderosos como eram, poderiam mexer os pauzinhos conseguindo o cancelamento do asilo político e, consequentemente, minha deportação.
A saudade do país, em breve seria saciada, assim como a vontade de voltar à luta, pois estava quase que totalmente recuperado.
Agora, tudo passava como um turbilhão em minha mente. Tinha que correr contra o tempo e contra os von Sätre, antes mesmo que eles pudessem saber o que se passava em meus pensamentos.

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