quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Costela de Porco



Sentado, eu percebi que todas as pessoas olhavam em minha direção. Não assim diretamente, mas era fato: quando iam descerdo ônibus, me dirigiam aquele olhar semicerrado despretencioso.


Eu, tímido e introvertido, baixei minha cabeça e tentei me distrair. Olhando para o lado, percebi que havia uma garota, não feia, sentada lendo um livro. O livro chamava Crepúsculo. Pensei ser Clarice Lispector, mas quando tentei ler o nome do autor ela me olhou de cara feia e guardou o tal livro.


E lá se ia minha busca por distração. Quando de repente, o ônibus parou: dito e feito. Automaticamente, desviei meus olhos em direção a porta e, inevitavelmente, o ser que preparava-se para saltar olhou em meus olhos assustados com seu par frio de almôndegas assadas.


Nesse devaneio, olheio de soslaio para uma moça nova, sentada logo atrás, na diagonal em meu campo de visão. Ela era bonita, contudo logo desceu. Acho que gostou de mim pois, antes de descer, encantou-me com uma olhadela discreta e tímida. Eu sorri.


O tempo foi passando e eu, que vinha de uma mal-dormida noite, comecei a cochilar em meio ao ônibus que se esvazia como se o cansaço fosse embora com as pessoas, deixando-me livre para sonhar.


Então, como se já fosse predefinido, chegou minha vez de descer. De descer do ônibus e olhar pra trás.


Elegantemente, caminhei até a escada do coletivo e buscando transparecer uma beleza que não tenho, com o movimento mais sedutor possível, virei-me e a vi.


Ela era impossivelmente linda. Assim, feliz com àquela visão sorri. Esperei o ônibus parar e fui embora sem olhar pra trás.

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