terça-feira, 31 de agosto de 2010

Anísio (interinamente) Capítulo Segundo


Ainda não havia decidido o que fazer com a “fortuna” que lhe coubera como herança, nem o que seria de sua vida a partir de então. Sabia apenas que não deveria baixar a cabeça diante dos pesares que com certeza lhe viriam a acontecer.

Sim, porque, após a morte de sua avó, acreditava que todo mal do mundo cairia sobre suas costas. Ora pois, humano que era, tinha a extrema necessidade de ser o centro do universo, universo que, em seu egocentrismo, acreditava conspirar contra ele.

Talvez deviam ter-lhe dado razão: mal chegou a pacata Curitiba, e um vileiro sem alma, roubou seu boné.

Ao sair da rodoviária, percebeu que esquecera de lembrar de comprar um guarda-chuva. Pudera, quem foi que o mandou para este cidade sem um kit sobrevivência? A chuva não era tão forte, mais o frio de verão era muito mais que frio que qualquer inverno em sua cidade natal, quiçá de qualquer outra cidade.

Por sorte, conseguiu desviar dos pingos que, como se tiros fossem, eram disparados sem a menor piedade. Diante desta bondade divina, alguém poderia até duvidar que o universo não estava conjurando contra ele. Acalmem-se senhores, a injustiça tarda mas não falha: mal chegou à calçada e aquele maldito ônibus vermelho fez questão de procurar a poça mais abundante para lavar seu humor.

Quis o destino, também, lhe privar de aprender alguns dizeres próprios aquela situação, fazendo apenas com que bradasse:



_ Seu... seu... mané!



Suas palavras torpes, por sorte não chegaram aos ouvidos do malvado motorista que sequer olhou para trás, pois com certeza ele se sentiria muito ofendido por ser comparado a um pronome de colonizadores brasileiros.

Estando assim, não lhe restou outra alternativa a não ser se hospedar em algum lugar perto da rodoviária. Cerca de dez minutos depois, encontraria o melhor hotel da região. O quatro estrelas, para ele, era o lugar mais luxuoso da face da terra. O quarto com carpet, uma cama enorme e televisão colorida, era a coisa mais confortável que sentia, desde que saíra do martírio de sua terra. Parecia utopia, tudo aquilo por apenas dois dígitos de reais.

Constatou que deveria o quanto antes aproveitar o chuveiro quente do seu quarto. Mal terminou de pensar e já estava lá, esquentando-se e desfrutando daquela benção da vida urbana. Tomou o melhor e mais demorado banho de sua vida, lavando toda a tristeza que ainda restava em sua alma.

Antes que se perguntem, por melhor que esta última parte lhe pareça, aquele não era o dia de Anísio.

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