segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Anísio (Interinamente) Capítulo Primeiro

Há tempos não se via um ritual de passagem tão elaborado como aquele; alcançou a maioridade legal uma semana após o fatídico acontecimento. Buscou ajuda para enfrentar aquela situação, mas ao olhar para os lados sabia que não havia ninguém que pudesse lhe confortar. Entendia que o máximo que poderia ouvir era lá do fundo uma voz gritando: Te vira, guri!

_ E fazer o quê? Ces’t la vie. Pensou enquanto assinava o contrato de compra e venda daquele que fora o seu mundo durante toda sua existência até então.

Sua intenção era mudar-se para a capital. Não que tivesse qualquer ambição pecuniária: precisava se afastar o quanto antes de tudo o que lembrasse de sua antiga vida. Seu antigo “eu” acabara de morrer e seria enterrado no dia seguinte quando pegasse o ônibus para a capital paranaense, sem choro, nem vela.

Dos poucos e bons amigos que possuía (se é que pode ser possível possuir outra pessoa), restou abraços e desejos de boa sorte. Das meninas que conhecia, apenas um aceno com um pouco mais de ênfase para Renata. Sua amiga íntima, que apesar de sua rispidez, havia sido o mais próximo de um relacionamento homem-mulher que tivera.

O Expresso Maringá parado no terminal era inconscientemente assustador, determinante para o fim de toda uma era, de todo um estilo de vida. Aquele garoto do mato, como diziam alguns, teria que aprender a ser um civil, seja lá o que isso quisesse dizer...

O ônibus partiu, com seus amigos ao longe acenando e um gosto horrível lhe subiu à boca. Não chorara desde o dia que sua mãe decidiu não servir para o labor materno e o abandonou para conhecer o mundo com o homem que lhe jurará dar o tão sonhado amor eterno. Não chorou quando seu avô “acordou morto”, em sua cadeira próxima a mesa. Nem quando descobriu que jamais conheceria o pai, assassinado pelo amante de sua mãe (?). Ou, ainda, quando lhe trouxeram a notícia que sua mãe fora encontrada em um lago morta por excesso de drogas. Além de que, não teve tempo de chorar sobre o inexistente corpo de sua querida avó, pois o caixão vazio ele solicitou fosse enterrado o mais rápido possível.

Mesmo diante de todos estes fatos, ou diante da lembrança de tudo que lhe acontecera, somada a ruptura de todos os seus sonhos infantis, chorou como se criança fosse, durante a hora de viagem. Entretanto, quando desceu no Terminal Rodoviário de Curitiba, decidiu que bastava de tanta lamentação:

_ É a vida, concluiu, então vamos vivê-la.

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