quarta-feira, 7 de julho de 2010

"Um sonho penoso com sensação de opressão torácica e dispnéia, terminando por um despertar sobressaltado ou agitado e com ansiedade:

    Ultimamente, nós estavamos até gritando de alegria quando eu acordei de um pesadelo. Parecia que o dia era tão azul, que o sofrimento alheio era motivo de graça. Corri ao seu encontro e, em seu abraço apertado, encontrei espaço para respirar. Mesmo que tudo vibrasse ao meu redor, naquele instante, que nunca mais haveria de existir, eu flutuei.
    Tropecei em uma pedra, que desatenta, ocupava um vazio em meu caminho. Pensei: "Ela deveria estar ali.". Afinal de contas, como dizem por aí, nada acontece por acaso, não seria agora, que o acaso passaria a ser motivo. Ouço suas pernas batendo em minha frente, seus braços apertados junto ao peito e seus dentes que quase quebram ao se chocar.
    Eu levantei as cadeiras, colocando-as sobre a mesa: decidi que era hora de limpar a casa. Você sorriu, dizendo que eu parecia assustado, que o meu medo transparecia como suor, escorrendo pela minha pele manchada pelo sol. E quanto mais eu enxugava, mais molhado ficava.
    Comecei a correr feito um desesperado, acreditando que tinha folego para tanto, mal sabendo que na próxima quadra perderia completamente a capacidade de respirar. E foi assim, como um momento, tudo ficou "blue" e eu caí. Caí como jamais havia acontecido, do alto de toda minha prepotência, consegui o que nunca poderia ter: o desânimo travestido de humildade que contempla a face de um fracassado.
    E caí, caí desesperadamente tentando agarrar-me aos seus pés, que já ultrapassavam a barreira do chão que se abria e me engolia, me engolia feito a fome que se mata a garfadas. Não que houvesse para onde ir, afinal naquele azul todo, não podia saber se era céu ou mar, ou seus afins. Pedia que ao inferno não chegasse, pois minha lua de mel acabou porque eu não sabia argumentar.
    Por mais engraçado que fosse minha situação, eu não percebia a menor graça, pois parece insano um mar ser céu transformado em inferno, mas se tudo passa, então não há razão para pensar diferente. E no meio destes pensamentos sem o menor sentido, eu gritava almejando ajuda, mas quando via uma mão, esta era para me empurrar.
    Fiquei diversos dias implorando acordar, mas quanto mais tempo passava nesse impasse, mais percebia que não era um sonho, quem sabe até um pesadelo; vivia acordado."

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